Estava relembrando os tempos de escola, a primeira memória que me vem em mente, sempre, é o dia em que os colegas de sala tiraram sarro de mim. Havia ganho uma medalha de honra ao mérito em minha cidade entre todos os colégios, teve uma festa para anunciar os vencedores e, não lembro se isso de fato aconteceu, mas penso ter tocado pratos. Pois bem, acontece que o evento foi gravado e a professora passou o vídeo em sala de aula, um aluno debochou da forma que eu andava e todos começaram rir. Hoje não consigo olhar no espelho sem desconforto.
Em contrapartida a essa demonstração de como criança às vezes pode ser um bicho ruim, há uma demonstração de como há bondade. Um dia acordei, fiz o ritual matinal e fui pegar o ônibus escolar. Cheguei na escola e sentei esperando o sinal. Tocou, fui levantar e... cadê as minhas pernas? Não me aguentava em pé. O monitor me levou pelos braços à sala de aula e lá fiquei até o intervalo. Dado o intervalo, os alunos perceberam que eu não conseguia ficar de pé e vieram ao meu redor, levantaram a cadeira e me levaram ao pátio. Me levaram igual a um rei sentado no trono.
Não tenho tantas memórias, outra é a cartia de amor pedindo a garota em namoro, mas não lembro se tive resposta, acredito que não, não recordo de deixar claro de quem era a carta. Voltei para a sala no meio do recreio e coloquei entre as folhas do caderno dela. Lembro de uma ingratidão minha, algumas garotas estavam me oferecendo bolacha a todo momento e eu recusava, uma hora me irritei, aceitei e joguei no chão. Por que fiz essa merda? Também me pergunto isso e ainda vou além, talvez se tivesse aceitado e puxado conversa não seria tão travado hoje em dia.
Ia de van à escola e havia uma garota que sentava ao meu lado — acho que mais velha —, sempre apagava e acordava nos ombros dela. Ela nunca reclamou e sempre dormi nos ombros dela. Uma coisa engraçada era tocar Pitty pontualmente no mesmo horário. Não sei o nome, nem mesmo lembro o rosto, mas ainda sinto o cheiro doce e da maciez da mão que me despertava.
Uma vez a professora estava ditando e, como escrevia devagar, deixava partes em branco para copiar de alguém. A professora vendo isso perguntou se eu era analfabeto. Meu rosto ferveu de vergonha e xinguei a professora... em pensamento.
Colegas sempre tive, nunca sofri bullying ou coisa parecida. Nos meus últimos anos de escola, dos 13 aos 15, uma garota me levava pra cima e pra baixo, quando era educação física ficava jogando dama comigo. Talvez uma oportunidade perdida de ter namorico adolescente se não fosse tão t-t-tímido. Não concluí os estudos por intervenção médica para evitar pneumonia.